Equipe médica e enfermeiros, no Bloco Cirúrgico do Hospital Alzira Velano, no momento da captação de órgãos doados para transplantes
Soloni Viana - Marketing do HUAVO Hospital Universitário Alzira Velano realizou, sábado, dia 15, captação de órgãos para transplantes, doados pela família de um doador falecido jovem. A retirada dos órgãos foi feita pela equipe do Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal e os transplantes, que beneficiaram três pessoas foram feitos, no mesmo dia, no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte-MG.
Esta é a primeira captação feita pelo Alzira Velano este ano. Desde 2020, com a pandemia do Coronavirus-19, houve uma significativa diminuição do número de doações de órgãos em todo o mundo e também no Brasil. Ainda que houvesse doadores, a doação não se efetivava, pela contraindicação, baseada em critérios estabelecidos por órgãos internacionais de saúde.
Em todo o mundo, o número de transplantes sofreu queda devido à pandemia da Covid-19, em 2020 e 2021. Enquanto alguns países paralisaram totalmente os programas de transplantes, o Brasil manteve cerca de 60% dos procedimentos. Não houve interrupção dos processos e as atividades de doação de órgãos foram mantidas, observando as normas de segurança para as equipes envolvidas, para os candidatos a transplantes e para os pacientes transplantados.
“A principal causa da queda na taxa de efetivação da doação foi o aumento de 60% da taxa de contraindicação, que passou de 15% em 2019 para 24% em 2021”, aponta a ABTO- Associação Brasileira de Transplante de Órgãos.
“Esse aumento da taxa de contraindicação se deve às medidas tomadas no início da pandemia para evitar a transmissão da Covid-19 pelo transplante, pois o risco de transmissão era então desconhecido e poderia ser alto. Entretanto, agora já há dados suficientes na literatura científica sugerindo que esse risco cirúrgico é mínimo ou ausente, com exceção do transplante de pulmão e, portanto, as medidas devem ser revisadas”, acrescenta a ABTO, informando que, dos 12.215 potenciais doadores notificados no ano passado, 2.781 foram contraindicados. No entanto, mesmo com a pandemia, muitas vidas foram salvas graças aos transplantes de órgãos. Atualmente, a expectativa é que com a diminuição dos casos de Covid-19, com o fim da pandemia, aumentem os números de doadores e transplantes, no mundo e no país.
O Brasil é referência mundial em doação e transplantes de órgãos, garantido de forma integral e gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), responsável por financiar e fazer mais de 88% de todos os transplantes de órgãos do país.
Em números absolutos, o Brasil é o 2º maior transplantador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A rede pública fornece aos pacientes toda a assistência necessária, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante.
A estratégia nacional de retomada gradual de doação e transplantes de órgãos e tecidos começou em setembro de 2020, com a elaboração de notas técnicas para os profissionais de saúde, familiares e pacientes. Por isso, embora exista aumento na lista de espera para o transplante de órgãos e córnea, que passou de 32.909 em 2020 para 34.830 ano passado, após a definição dos critérios técnicos para o enfrentamento da pandemia, os números estão voltando aos patamares dos períodos anteriores.
De janeiro a novembro de 2021 foram realizados mais de 12 mil transplantes de órgãos pelo SUS. Em 2020, foram cerca de 13 mil procedimentos do tipo.
Quem decide é a famíliaNo Brasil, são os parentes dos doadores falecidos por morte encefálica que devem autorizar, ou não, a doação de órgãos ou tecidos; por isso é muito importante que a pessoa comunique aos familiares, ainda em vida, o desejo de ser um doador de órgãos.
Uma conversa com a família pode salvar a vida de muitas pessoas que estão há anos na fila de espera por um transplante. Em todas as campanhas para doação de órgãos há sempre o pedido para que as pessoas que desejam ser doadoras, falem para seus parentes próximos sobre este desejo e autorizem, verbalmente, a doação de seus órgãos. “Todas as pessoas que desejam ser doadoras de órgãos, não precisam deixar nada escrito. Basta conversar com os pais, irmãos, tios, e outros parentes sobre a sua vontade de ser doador.” Assim, se por acaso, houver uma situação, um acidente em que a pessoa venha a ter o diagnóstico de morte encefálica, que é a morte definitiva, os familiares poderão cumprir o desejo e fazer a doação dos órgãos para salvar vidas. Entre os motivos que levam à resistência da família estão, principalmente, a desinformação sobre a necessidade da doação de órgãos para salvar a vida de outra pessoa, e a falta de conhecimento sobre o que é a morte encefálica, a legislação sobre transplantes e os sérios critérios para a retirada e doação dos órgãos.
A Lei define que os órgãos doados vão para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em lista única, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), coordenado pelo Ministério da Saúde.
A doação por doador falecido pode ser de órgãos - rim, fígado, coração, pâncreas e pulmão- ou de tecidos -córnea, pele, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem, medula óssea e sangue de cordão umbilical. Órgãos como rim, parte do fígado ou da medula óssea podem ser doados em vida, pelo doador vivo, que tenha compatibilidade com o receptor do órgão.
Comissão multidisciplinar cuida de todo processo No Brasil, há um rigoroso protocolo de segurança para diagnóstico e confirmação de morte encefálica, que é um quadro irreversível, o que possibilita à equipe da CHIDOTH (Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes) faça a abordagem à família sobre a doação de órgãos. A morte encefálica deve ser comprovada por equipe médica de outro hospital, diferente do hospital onde está internado o possível doador.
Nesse momento é importante que os familiares entendam que não há nenhuma chance de o paciente acordar, que a morte encefálica é definitiva, irreversível.
O papel da CHIDOTH é muito importante em todo processo de doação de órgãos. Durante a abordagem, informa a família sobre todos os aspectos da doação, o que é morte encefálica, os protocolos e a legislação sobre doação e transplantes e a importância do gesto solidário de doação.
A CIHDOTT (Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes) é uma comissão multidisciplinar capaz de efetivar a proposta de doação, melhorando a identificação e a manutenção de potenciais doadores. Foi instituída através da portaria 2.600 de 21/10/2009 que regulamenta a Estruturação do Sistema Nacional de Transplantes.
A CIHDOTT organiza rotinas e protocolos para possibilitar o processo de doação de órgãos e tecidos dentro da instituição, notificando as situações de possíveis doadores de órgãos e tecidos, responsabilizando-se pela segurança na realização dos protocolos de diagnósticos de Morte Encefálica, bem como o acolhimento dos familiares de pacientes falecidos tanto doadores como não doadores; antes, durante e depois de todo o processo.
Doar órgãos, um ato de amor“Doar órgãos é doar vida, é participar de um renascimento”, afirma o enfermeiro Gleison Vagner Marques, membro da CIHDOTT, que participou da captação de órgãos do dia 15, no Bloco Cirúrgico do Alzira Velano. Para ele “ser doador é dar uma nova chance a milhares de pessoas a voltarem a viver e o SIM de uma família pode salvar muitas vidas”.
“Como Enfermeiro Coordenador da CIHDOTT do Hospital Universitário Alzira Velano, participar de um processo de doação e captação de órgãos é emocionante, é sentir que novas vidas serão salvas através deste gesto tão lindo de amor com o próximo.” A CIHDOTT, explica Gleison, “tem um papel fundamental no processo de doação de órgãos, desde a identificação, notificação e manutenção de um potencial doador, o acolhimento e esclarecimento da família do paciente, na entrevista e em caso de autorizada a doação, no explante dos órgãos até a entrega do corpo e apoio aos familiares. Como profissionais da área da saúde é de suma importância levarmos orientações através de campanhas para que o assunto se torne bem abordado e esclarecido na família. Participar de todo processo até a autorização e captação dos órgãos nos faz refletir quanto é importante ser informado e atualizado sobre tal tema de extrema importância a todos nós”. Gleison faz um pedido: “Seja um doador, doe vidas, converse com seu familiar e demonstre este ato de amor. Transforme a espera em esperança”.
Sistema Nacional de TransplantesNo Brasil existem atualmente uma central nacional e 27 centrais estaduais de transplantes; 648 hospitais, 1.253 serviços e 1.664 equipes de transplantes habilitados; 78 organizações de procura por órgãos; 516 comissões intra-hospitalares de doação de órgãos e tecidos para transplantes; 52 bancos de tecido ocular; 13 câmaras técnicas nacionais; 12 bancos de multitecidos; 13 bancos de cordão de sangue umbilical e placentário; além de 48 laboratórios de histocompatibilidade.