Soloni Viana

O Hospital Universitário Alzira Velano realizou, no dia 21 de agosto, com sucesso, duas cirurgias de implante coclear. São as primeiras cirurgias feitas pelo Hospital nesta especialidade e também as primeiras realizadas no Sul de Minas, pelo SUS. As crianças que fizeram a cirurgia e receberam o implante são pacientes da Clínica de Fonoaudiologia do Alzira Velano, do programa CER III auditivo.

Os pacientes, um menino de dois anos e meio, de Boa Esperança, e uma menina de três anos e oito meses, de Jacuí, estão internados com suas mães, no hospital, recuperando-se da cirurgia, sob os cuidados de uma equipe multidisciplinar, e passam muito bem, sem nenhuma intercorrência.

A cirurgia foi feita por uma equipe médica coordenada pelos médicos Dr. Lucas Bevilacqua e Dr. Rubens Martins, com a participação de equipe multidisciplinar formada por médicos, fonoaudiólogos, enfermeiros, psicólogo e assistente social. A Clínica de Fonoaudiologia e o CER III têm como coordenadora a fonoaudióloga Dra. Sanyele Pinheiro.

Outras cirurgias já estão agendadas. O hospital deverá fazer duas delas por mês.

O implante coclear é um dispositivo eletrônico para pessoas com perda auditiva de grau severo a profundo que substitui parcialmente as células danificadas da cóclea e funciona transformando sons em estímulos elétricos que são enviados diretamente ao nervo auditivo.

Um mês após a cirurgia do implante do dispositivo eletrônico, é que será acionado o eletrodo, que fará com que os sinais sonoros sejam transmitidos para o cérebro e as crianças possam ouvir os sons. Este é o momento de muita expectativa, uma experiência que causa muita emoção e alegria nos pacientes, familiares e em toda a equipe.

As mães das crianças - Danielle e Patrícia - acompanharam todos os procedimentos do pré e pós-operatórios e, ao final, comemoraram juntas o sucesso da cirurgia, felizes com a possibilidade, cada vez mais próxima, dos filhos ouvirem os sons e, com a audição, aprenderem a falar. Para Danielle Dalla Polla, seu filho nasceu de novo com a cirurgia. “Ele agora tem duas datas de aniversário: o dia do seu nascimento e o dia de hoje, quando ele nasceu para a audição”.

O médico cirurgião otorrino Dr. Lucas Bevilacqua também comemorou o sucesso da cirurgia com a sua equipe e as mães dos pacientes. “Estamos felizes por termos realizado a primeira cirurgia de implante coclear totalmente pelo SUS, no Sul de Minas. Esta é uma etapa importante para a habilitação e reabilitação dos pacientes com deficiência auditiva no Estado. Estamos abrindo as portas da instituição para uma nova etapa para nossos pacientes, para atendê-las por completo. Nós já tínhamos disponíveis os serviços de amplificação e reabilitação e agora temos mais este instrumento para a habilitação e reabilitação dos pacientes auditivos.”



Uma história de muitas conquistas



O Hospital Universitário Alzira Velano é credenciado junto ao Ministério da Saúde em saúde auditiva, atendendo pacientes do Sul e Sudoeste de Minas. A Clínica de Fonoaudiologia, moderna e equipada com equipamentos de última geração, foi construída especialmente para atender à demanda dos pacientes com deficiência auditiva. É um centro de excelência, referência regional em saúde auditiva com vários programas desde a triagem auditiva, diagnóstico audiológico, concessão de aparelhos auditivos, cirurgia de implante coclear e reabilitação auditiva.

A Clínica de Fonoaudiologia foi inaugurada no ano de 2000, pelo Professor Edson Antônio Velano, que já vislumbrava o crescimento da demanda e a necessidade de atender a um número cada vez maior de pacientes com deficiência auditiva.

O Serviço de Saúde Auditiva do Alzira Velano foi criado em dezembro de 2005 e, em 2013, recebeu a denominação de CER III (Centro Especializado em Reabilitação).

Hoje, a Clínica de Fonoaudiologia atende pacientes de Alfenas e de mais 72 municípios da região. Para a realização de implantes coclear serão contemplados pacientes de 154 cidades do Sul de Minas. Os números mostram a atividade intensa do serviço. No mês de agosto, a Clínica atendeu 150 pacientes, realizou 1.132 procedimentos e concedeu 289 aparelhos auditivos.

A coordenadora da Clínica de Fonoaudiologia e do CER III, a fonoaudióloga Dra. Sanyelle Pinheiro, sente-se feliz e realizada com a conquista. “Após 14 anos, o Alzira Velano inicia o programa de implante coclear, que irá beneficiar inúmeros pacientes de todo o Sul de Minas. É um grande sonho que se realiza, não só para nós da instituição, mas também para as famílias dos pacientes que aguardam ansiosamente pela possibilidade de ouvir e de falar. Crianças e pessoas de todas as idades, deficientes auditivos, poderão ouvir os sons, falar, comunicar e desenvolverem-se emocional e socialmente.

Sanyele Pinheiro explica que “o implante coclear é um dispositivo eletrônico indicado para pessoas com perda auditiva de grau severo a profundo. Este dispositivo tem a função de estimular eletricamente as fibras nervosas, através de um feixe de eletrodos inserido cirurgicamente no interior da cóclea que é o órgão sensorial da audição.

É necessário, explica a fonoaudióloga, garantir que a criança consiga ter acesso ao mundo sonoro com o uso do dispositivo - ou seja, que os sons seram audíveis e confortáveis. Se a criança obtém benefício com o uso do dispositivo eletrônico (aparelho auditivo ou implante coclear), ou seja, se proporcionamos a esta criança ter acesso aos sons de fala e ambientais, é esperado que utilize o dispositivo efetivamente.

Sanyelle, observa que a audição é muito importante na comunicação humana, e que a perda auditiva da criança pode acarretar distúrbios na aquisição da fala, linguagem e no desenvolvimento emocional, educacional e social.

Ela esclarece que quanto antes for diagnosticada a deficiência auditiva, melhor. “É de essencial importância detectar que a criança não esteja ouvindo os sons, para prevenir ou diminuir os possíveis riscos e desvios que possam surgir no desenvolvimento global da criança”.

Sanyelle Pinheiro indica os passos e os procedimentos necessários até chegar ao implante coclear. “A triagem auditiva é o primeiro passo de um programa de avaliação auditiva precoce; nesse programa, ao nascimento, a criança é avaliada na triagem que identifica os prováveis casos que têm perda auditiva. Uma vez identificada a falha na triagem auditiva, a criança é encaminhada ao diagnóstico audiológico.”

“O diagnóstico audiológico fornece informações com o grau e tipo de perda auditiva; estas constituem dados importantes na indicação, seleção e adaptação do aparelho auditivo. Após adaptação do aparelho auditivo, há necessidade de monitoramento, que permite aos profissionais envolvidos na reabilitação da criança e a participação ativa da família, para que promova os resultados, garantindo, assim, seu progresso conforme o desejado.

“Os profissionais envolvidos na reabilitação auxiliam as famílias realizando um trabalho de apoio e aconselhamento familiar, de maneira contínua e de acordo com a evolução das suas necessidades. Os pais são orientados sobre as abordagens existentes e, diante da escolha deles, acompanhar o desenvolvimento da comunicação da criança, verificando se está compatível com o seu desenvolvimento global. Nosso objetivo no CER III e no Programa de Implante Coclear, diz ela, é permitir que a criança se comunique com as outras crianças efetivamente, interagindo socialmente, sobretudo nos primeiros anos da escola.

Após a inclusão do dispositivo eletrônico, define-se o processo terapêutico, incluindo-se a avaliação contínua da percepção auditiva da fala, a orientação e o aconselhamento familiar, a orientação às escolas e aos professores de crianças com deficiência auditiva, ou seja, habilitação e reabilitação, estratégias terapêuticas, desenvolvimento das habilidades auditivas, avaliação contínua por meio de protocolos padronizados, de acordo com a faixa etária, com o intuito de favorecer o acompanhamento de curto, médio e longo prazo do desempenho e capacidade auditiva da criança.

Adepta da filosofia de Warren Estabrooks, Dra. Sanyelle gosta sempre de citar os ensinamentos do mestre lembrando que a terapia é um oceano de oportunidades e é necessário aproveitar todos os instantes, para navegar neste oceano, humanizando o atendimento, criando laços de afeto com todos os envolvidos. A equipe precisa ter o mesmo destino, seguir a mesma rota. Os pais são fundamentais para a viagem que tem como navegador o terapeuta e as crianças como delicados passageiros. Todos seguem juntos em busca da outra margem, onde a música suave do futuro os aguarda.