Profa. Patrícia Paiva, coordenadora do curso de Medicina Veterinária; Prof. Philipi Coutinho, coordenador do Hospital Veterinário; Dona Luiza e a sua filha Mariza Dias da Silva Costa
Hospital Veterinário da UNIFENAS, um local criado para o ensino de profissionais comprometidos com a vida, que tratam e trabalham para o restabelecimento da saúde daqueles que não falam, mas possuem voz por meio daqueles que os amam. Aos 84 anos de idade Maria Luiza da Silva é uma dessas vozes que não se apega a discursos e sim a ação. Como ela diz, proteção de animais não é dar um prato de comida para em seguida dar um pontapé no cachorro.
Sua história com o Hospital, que envolve colaboradores, professores e alunos do curso de Medicina Veterinária da UNIFENAS, começou a ser escrita há um longo tempo. As muitas primaveras não lhe permitem precisar a data correta. O que se sabe é que foi aproximadamente na década de 1990 que Dona Luiza, como é mais conhecida na Universidade, conheceu o trabalho desenvolvido pelo Hospital Veterinário, que atende animais de pequeno e grande porte. “A gente sabe que os nossos clientes, que nos procuram aqui, todos eles demonstram muito carinho pelos animais que têm. Outros são aqueles que acolhem animais de rua e trazem aqui e acabam muitas vezes adotando esse animal. Criando um laço de amor, de carinho e de respeito pelos animais”, afirmou Patrícia Paiva Corsetti de Almeida, coordenadora do curso.
O contato de Dona Luiza com a instituição começou quando ela acolheu um cão de rua e o levou ao hospital. Ela explica como chegou à Universidade: “Eu vi um cachorrinho todo machucado. A cachorra tinha dado cria e ele estava jogado. E nesse ficar jogado, eu vi o estado do cachorrinho. Aí eu vim para cá”.
Começava naquele momento a construção de uma relação de respeito e reconhecimento mutuo. Dê um lado o trabalho de profissionais ligados à Medicina Veterinária, do outro o de uma mulher que tem em sua essência o ato de preservar a vida.
Para Dona Luiza, não há obstáculos físicos impostos pela idade ou distância que impeçam sua missão. Os 110 km entre Pouso Alegre, sua cidade, e Alfenas nunca a impediram de levar os seus animais para o acompanhamento e tratamento no Hospital Veterinário da UNIFENAS. Emocionada, destacou que o motivo seria o amor. “Não é? É amor!”, afirmou. Em seguida, Mariza Dias da Silva Costa, sua filha, completou: “Gratidão mãe!”.
“Quando eu conversei com ela e disse: olha, por que a senhora sai de Pouso Alegre e vem até aqui? Ela respondeu rapidamente: ‘pelo atendimento’. Então, isso traz para a gente uma satisfação, uma alegria imensa, de dizer que a gente tem um atendimento diferenciado”, destacou a professora Patrícia. Antes, Dona Luiza havia dito: “E não tem outro lugar para a gente ir, a não ser o melhor lugar que é aqui”.
Momentos registradosRecortes de jornais dão conta de sua abnegação, que, entre outros reconhecimentos, lhe renderam a homenagem de Defensora dos Animais na cidade sul mineira de Pouso Alegre. Ela afirma que não se preocupa em “fazer bonito” e sim o que é certo. “Eu sou muito feliz. Eu sou, sabe o que eu sou? Eu sou assistente social voluntária”, declarou orgulhosa.
Histórias como a de Dona Luiza se entrelaçam a do Hospital Veterinário. Colaboradores, professores, alunos e egressos vivenciam acontecimentos que também ajudam a escrever suas próprias histórias. Nos seus quase 40 anos de UNIFENAS, o auxiliar de secretaria Carlos Henrique Jordão acompanhou muitos atendimentos. Alguns dos quais o então aluno de Medicina Veterinária, Philipi Coutinho de Souza, hoje professor da Universidade e coordenador do Hospital Veterinário, também participou.
Professor Philipi se recorda dessa época. “Eu lembro que atendia ela aqui enquanto aluno, junto com o professor Patinho, junto com a professora Valéria. Depois sai e voltei como docente e continuo agora atendendo ela como médico veterinário, como professor. Então, é uma alegria muito grande, duas vezes, por ter participado dessa história. Para o hospital é uma felicidade muito grande, por ser uma das clientes mais antigas. Valoriza e confia realmente na gente.”
O colaborador Jordão expôs algumas de suas características: “A Dona Luiza é diferente. A gente nota isso! Independente de mexer com animais ou não. Você vê que ela é amorosa, é carismática. É uma pessoa que a gente pode se soltar a cada dia, com informações, por meio de conversas. Realmente é uma pessoa que cativa a gente”.
Exemplo para as pessoasMãe de cinco mulheres e um homem, a ação Dona Luiza não se limita aos animais. Há um episódio em que vendo uma mãe embriagada, colocar um filho de colo e outro um pouco maior em risco, não se isentou em pegar as crianças, levar ao conhecimento do Ministério Público e abrigá-las por uma semana; até a decisão judicial que as devolveu aos pais. Uma determinação, ao seu modo de ver, equivocada, diante do fato de que um casal de médicos manifestara o interesse em cuidar das crianças. O episódio ficou na memória de sua filha Mariza, pela forma que a sua mãe, indignada, repreendeu o juiz. “Minha mãe falou assim para o juiz: ‘doutor, o senhor vai acertar as contas com Deus no céu ou com o capeta no inferno’. Minha mãe teve essa petulância de falar isso para o juiz”, sorriu Mariza com a Dona Luiza ao seu lado.
Sua coragem em lutar pelo que acredita influenciou outras pessoas e familiares. Com o passar dos anos, nem mesmo o Parkinson, que limitou sua mobilidade, diminuiu a disposição em auxiliar a quem precisa, por telefone, ou levar o sua cachorra ao Hospital Veterinário da UNIFENAS, com a ajuda de familiares que não medem esforços para atender ao pedido da mãe. “Logicamente que temos excelentes profissionais em Pouso Alegre. Muitos bons profissionais sim. Mas a vontade de querer voltar aqui, saber do carinho, do zelo e da gratidão que ela tem por esse lugar...”, refletiu Mariza em voz alta, como quem completaria com a afirmativa: “que não tem preço”.
Em sua simplicidade, Dona Luiza resumiu a conversa: “agora eu estou desse jeito. Mais, quem sabe Deus me ajuda e minhas pernas vão movimentar e eu trabalhar bastante”.