Alunos, egressos, professores e profissionais prestigiaram o evento, que ocorreu na Sala Professor Edson Antônio Velano
O 16º Congresso de Psicologia, que ocorreu no período de 26 a 28 de agosto, debateu com os presentes o tema “Psicologia e Direitos Humanos”. Na plateia, alunos, egressos, professores e profissionais da área.
A coordenadora do curso, professora Rosane Carvalho da Silveira Abbade, esclarece que este assunto foi eleito para o evento porque, na atual situação, Direitos Humanos é um tema que nenhum ser humano pode deixar de lado. Assim, explica Rosane, a comissão organizadora do Congresso se questionou qual seria a importância da Psicologia ou por que ela tem que tratar, trabalhar esse tema. “E aí, pensando por este viés, a gente conclui, rapidamente, que a psicologia trata, trabalha com a subjetividade humana e por isso ela é muitíssimo importante e responsável na luta, na defesa para que os Direitos Humanos continuem sendo construídos com dignidade e pregando a dignidade do ser humano”.
Na abertura do evento, o psicólogo Cristiano Andrade abordou “Prazer e sofrimento no trabalho de psicólogos (as): repensando o cuidado com quem cuida”. Para discorrer sobre o tema, ele baseou-se na teoria dejouriana, que traz como base a psicodinâmica do trabalho. O psiquiatra francês Christophe Dejours discute o trabalho como uma psicodinâmica. Ele entende que o trabalho transforma tanto o sujeito que trabalha quanto o objeto em que está sendo trabalhado. Para ele, existe uma relação entre prazer e sofrimento, porque, da mesma forma que o trabalho gratifica, pode também, em algum momento, gerar uma situação de desconforto. “E quando eu penso o trabalho do psicólogo nessa ótica do cuidado com quem cuida, eu tento trazer aqui uma reflexão a respeito aquilo que muitas vezes é invisibilizado, isto é, o psicólogo pensa no paciente, pensa na instituição, no trabalho que está sendo feito, mas quem pensa nesse psicólogo?”.
O palestrante ressalta que muitas vezes essa invisibilidade pode suscitar sensações de sofrimento, e o que se tem informação hoje é que a Síndrome de Burnout tem feito grandes acometimentos em profissões que atuam com o público, como profissionais da educação e da saúde, e, como o psicólogo transita entre essas áreas, pode experimentar este desconforto e vir a adoecer se não for trabalhado este sofrimento. “Dejours deixa bem claro que sofrimento não necessariamente significa ausência de saúde, mas também ressalta que, se não for trabalhado, pode suscitar o adoecimento do profissional”.
Cristiano relata que quis provocar esta reflexão no público porque o psicólogo é extremamente estigmatizado pela sociedade como uma boa pessoa que fala doce, que diz coisas bonitas, que não tem problemas, mas na verdade é uma idealização como o próprio Dejours vem falar “e eu enfatizo na palestra, existe um trabalho prescrito e um trabalho real. O prescrito é aquele ideal, perfeito, o psicólogo é santo, extremamente reto. E o trabalho real vai dizer para ele: você também é limitado como qualquer ser humano, você também tem problemas e, se não se cuidar, vai adoecer”.
Para o palestrante, existem algumas atitudes que podem ajudar o psicólogo nesta jornada, como, por exemplo, fazer psicoterapia, saber separar vida profissional da pessoal, saber administrar o tempo para o trabalho e o lazer.
Na mensagem para os acadêmicos da UNIFENAS, Cristiano diz que o caminho para o sucesso profissional, primeiramente, é ter desejo no que faz, pois, quando se tem desejo, é possível produzir o ato. Segunda questão é cuidar de si para poder cuidar do outro, saber separar quem é o sujeito e quem é o trabalhador, porque, quando o sujeito não fala, a tendência é que ele atravesse o lugar do psicólogo, e, nesse sentido, não há de ter uma eficácia tão potente no desenvolver das atividades profissionais. “Então a psicoterapia é fundamental, o autocuidado é fundamental, viver a vida de um modo geral e não focar apenas a carreira. Eu penso que a carreira é importante, porém, dentro dos contextos desejáveis. Tomar cuidado para não misturar vida pessoal e profissional é a base”.
Dentre outros temas apresentados no encontro, destacam-se “Direitos Humanos e laço social: articulações entre singularidade e universalidade”; “Direitos Humanos ou barbárie! Fragmentos de algumas cenas”; “A necropolítica do neoliberalismo”; “Arte Terapia”; “Clínica e política de drogas: intervenções possíveis nas trincheiras da guerra das drogas”; “Maternidade: dever, direito ou desejo”, entre outros.