Patrícia Oliveira (Jornal dos Lagos)“Memórias Pitorescas de Alfenas” é um livro que reúne materiais que a Assessora de Extensão e Assuntos Comunitários Sonia Boczar coletou, em sua maioria, no início da década de 80. “Fui estudar em São Paulo e, ao aqui retornar, estranhei a falta de preocupação das autoridades locais com o patrimônio histórico de Alfenas. De mais a mais, não havia livros sobre a História da cidade, embora a Professora Aspásia Vianna Manso Vieira Ayer, a quem conheci pessoalmente, houvesse escrito artigos que depois se tornaram livros: A Educação em Alfenas nas décadas de 60/70 e A Fundação de Pedra Branca e A Igreja na História de Alfenas”.
A autora não se reconhece como historiadora, mas seu livro mostra uma significativa importância para a memória de nossa cidade. “Não sou historiadora, nem tenho essa presunção. Porém, vendo que ninguém se importava com o nosso passado, tomei uma decisão naquela época: Comecei a entrevistar pessoas que conheciam e viveram muitos desses fatos pretéritos, outras que tinham um conhecimento vasto sobre muitas coisas importantes da cidade. Ganhei de presente um bom gravador da época (utilizado por jornalistas de então), comprei algumas fitas e saí por aí perguntando coisas para as pessoas. Foi quando fiz um pequeno serviço jurídico para o SARAI e vi que Dona Zita Engel Ayer, seu marido, Sr. Elísio Ayer e Dona Chiquinha Moura Leite eram verdadeiros repositórios de conhecimento da História de Alfenas”, salienta.
Percebendo que todo esse material não poderia ser perdido de forma alguma, ela combinou com eles que, durante um certo tempo iria para a casa de Dona Zita e seu Elísio e, com a imprescindível presença de Dona Chiquinha, gravaria tudo o que pudesse extrair deles. “Pacientemente, me receberam por muitas tardes. Eu perguntava e as respostas vinham em forma de relatos, que se amarravam em outros e assim passamos muitas tardes divertidíssimas e produtivas. Em meio aos deliciosos bolos e sucos, ia gravando as respostas e as histórias. De vez em quando me pediam: Sonia, desligue o gravador agora... E contavam uma história um pouco mais sigilosa... Que ninguém me peça para contá-las, pois já me esqueci”, comenta humoristicamente.
De acordo com a profissional de Direito Sonia Boczar, a tradição oral tem importância fundamental para a História. Qualquer documento que sirva de referência nasceu de alguém que presenciou ou ficou sabendo de fatos e o perenizou pela escrita. Não pode ser desmerecidas, quando idôneas, as fontes.
Depois, por intermédio de Oscar Barbosa Duarte, ela solicitou que a mãe dele, Dona Lúcia Barbosa Duarte, entrasse em contato com Juscelino do Prado Barbosa, grande benfeitor alfenense, para que ele lhe permitisse entrevistá-lo no Rio de Janeiro. “Grande foi minha surpresa quando ele mesmo, no auge de seus 90 anos, veio a Alfenas me conceder essa histórica entrevista, que teve a duração de várias horas. Parte dela, por sua importância, publiquei no Jornal dos Lagos da época”, ressalta.
Sonia Boczar conta também que entrevistou José de Ávila, grande poeta, trovador, escultor e artesão. “Entrevistei Benedito Avelino e Waldir de Luna Carneiro. Entrevistei gente mais idosa e mesmo pessoas menos idosas, mas que tinham o que dizer. Pesquisei em algumas fontes escritas. O resultado desse esforço foi esse livro, que só foi escrito agora porque, finalmente, tive tempo disponível à noite, que é quando gosto de escrever e tive bons motivos para mergulhar nesse projeto, com a oportunidade que a UNIFENAS me deu com o novo cargo de Assessora de Extensão e Assuntos Comunitários.”
A Edição do livro ficou a cargo da Ardotempo, editora de Porto Alegre-RS, que pertence a um renomado artista plástico, Alfredo Aquino, amigo da autora há mais de 40 anos. “Tomou para si todo o trabalho de editoração, com tal desvelo com o singelo livro da amiga, como se fosse uma verdadeira obra prima, resultando numa bela edição”, diz.
A capa mostra um tacho vazio, sobre um fogão a lenha, com o fogo ainda alto, recém aceso. Foto de João de Ávila, brilhante fotógrafo profissional paulista. Segundo Sônia Boczar é a memória de Alfenas, ainda vazia, porém já esquentando, com tantas pessoas postando fotos incríveis nas redes sociais, grupos de pessoas, instituições e clubes de serviço se prestando ao trabalho de encher essa panela vazia com a nossa história, nossas memórias, nossos “causos”.
Boczar esclarece que algumas fotos que estão no livro são de domínio público. Outras foram objeto de doação de vários amigos queridos, a quem agradeceu um a um no livro.
O Lançamento aconteceu em solenidade muito bonita no dia 23 de novembro, no Restaurante dos Lagos, na UNIFENAS, patrocinadora do evento. “Espero que os que me honrarem com sua leitura apreciem o resultado”, finaliza.