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24 de junho de 2016

Em pauta: Psicologia e religião


Everton Marques
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Psicólogo Reinaldo da Silva Júnior: “O ambiente do debate, o ambiente da transparência é o ambiente que promove o crescimento das pessoas. A Psicologia, eu acredito que a função primeira dela é essa, ampliar a consciência para que as pessoas possam estar mais inteiras no mundo.”

O segundo “Psicologia em Foco”, realizado pelo Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG) na UNIFENAS, trouxe para a ordem do dia a “Discussão sobre os limites entre Psicologia e religião”. Coube a Reinaldo da Silva Júnior, escritor, psicólogo, professor universitário e doutor em Ciência da Religião, abordar o tema junto a acadêmicos e profissionais.

Para o palestrante, o tema é complexo, mas com o qual se sente a vontade para lidar, por entender que há uma correlação muito próxima entre a Psicologia e a religião. Para ele, mais do que pensar em limites, deve-se pensar em espaços e como estes se interagem. “A Psicologia, enquanto uma ciência, estuda a religião, que é uma manifestação cultural, assim como estuda várias outras. Então, a relação é essa, de uma ciência à frente de um fenômeno humano”.

Ao debater o tema, Reinaldo fez duas colocações distintas: primeiro discutiu a ciência-psicologia, como ela estuda o fenômeno religioso; em um segundo momento, como os profissionais da Psicologia devem tratar eticamente da questão religiosa na sua prática. Esta segunda parte foi o que motivou a coordenação do curso de Psicologia da UNIFENAS a propor ao CRP-MG a discussão do tema, uma vez que alguns religiosos, graduados ou não em Psicologia, equivocam-se na maneira como lidam com a questão.

Questionado sobre como o psicólogo poderia fazer o distanciamento entre um assunto e outro, o palestrante ponderou que isto só é possível quando o profissional as tem bem resolvidas. “Isso não tem nada a ver com a formação teológica, religiosa de um ou de outro. Profissionais que se dizem fora do universo religioso, que se colocam mais no campo da ciência, também podem não saber lidar muito bem com isso, se não tiver estas questões bem resolvidas”.

Como disse: “é preciso saber os lugares de cada racionalidade, de como utilizá-las e como elas podem dialogar no sentido de promover o bem-estar do ser humano”. E acrescentou que o que o Psicólogo tem que saber é “entender como toda a minha condição de ser humano; isso implica a religiosidade, espiritualidade, pode funcionar no meu trato profissional com as pessoas”.



A discussão do tema



A representante do CRP-MG, Cláudia Aline Carvalho, conselheira do 14º Plenário, destacou que tratar dos limites entre Psicologia e Religião foi uma demanda da cidade de Alfenas e região. Uma das propostas foi discutir sobre como a profissão deve ser conduzida diante de assuntos delicados.

Segundo a conselheira, atualmente há uma confusão sobre o que faz parte da ciência e o que faz parte da religião. “Como a Psicologia é uma ciência laica, nosso próprio código de ética traz diretrizes nesse sentido, que nós, profissionais, não podemos influenciar os clientes, seja na sua visão religiosa, política ou ideológica. No entanto, hoje em dia, o que presenciamos é o contrário disso.”

Cláudia relata que muitas pessoas têm entrado na vertente da religião e levado isso para o campo da Psicologia, o que compromete o trabalho do psicólogo. “São visões fundamentalistas que temos presenciado em alguns grupos. É claro que isso não é uma via de regra: nós temos profissionais que trabalham dentro do que é proposto pela nossa profissão.”

A palestra ocorreu por meio do “Psicologia em Foco”, que é uma campanha do CRP-MG pela valorização da profissão e que traz ao debate temas atuais, do seu cotidiano. O professor Márcio Moterani Swerts, coordenador do curso de Psicologia da UNIFENAS, câmpus de Alfenas, afirmou que o evento é um momento para se refletir e pensar quais são os limites e as possibilidades de acordo com o tema. “Existem abordagens da Psicologia que admitem uma ligação muito próxima entre a religiosidade e o ato psicoterapêutico. Existem outras abordagens que não admitem essa ligação ou, vamos dizer, essa sintonia onde um processo não tem na haver com o outro. É justamente isso que a gente precisa saber, o que é um ato de profissão de fé, e o que é um ato de entendimento de si mesmo.”