Judy Robbe: “...a família do portador de demência precisa estar ciente de que um diagnóstico da doença não significa o fim da vida...”
“Os desafios enfrentados pela família do idoso com demência: ao longo de todas as fases. Relato de experiência com trabalho de grupos” foi o tema da conferência proferida aos alunos do 4º período de Medicina da UNIFENAS, câmpus de Belo Horizonte, pela gerontóloga e terapeuta holística Judy Robbe.
Durante sua fala, Judy mostrou aos alunos que, apesar de ter escalas relatando como as demências em idosos avançam, é preciso olhar, paralelamente, não só a doença cerebral, mas o que a família passa e como ela convive com o seu idoso. “Quero mostrar também as necessidades da família, principalmente no quesito orientação, informações e também a importância de participar de um grupo de autoajuda, de apoio”.
A palestrante, que se especializou na área em cursos no exterior, observa que a família do portador de demência precisa estar ciente de que um diagnóstico da doença não significa o fim da vida; tem muita coisa a fazer e esta pessoa pode ter qualidade de vida. Segundo ela, o fato é que, hoje em dia, poucas pessoas não sabem o que é Doença de Alzheimer e isso traz um medo desse diagnóstico. “É o diagnóstico mais temido no mundo, além do câncer. Então, é preciso tirar esse estigma e pré-conceito para que as pessoas com essa doença sejam mais aceitas. Para isso, as pessoas precisam de compreender o que acontece e como lidar melhor com isso”.
Judy conta que seu trabalho começou por volta do ano de 1985, quando um amigo que residia na Europa foi acometido por uma demência que traz muitas mudanças de comportamento e que levou a esposa a tornar-se alcóolatra. “Ela não teve o apoio, orientações, os amigos foram se afastando. Então, eu trouxe da Alemanha essa ideia de apoiar a família. Tive o apoio da Associação de Alzheimer, em Londres, que me ensinou, passo a passo, como iniciar o trabalho no Brasil. Fomos pioneiros aqui. Três anos depois fui uma das fundadoras da Associação Brasileira de Alzheimer. Nosso trabalho, denominado Harmonia de Viver, é como uma ONG, porém, não é registrado como tal. Os trabalhos são feitos por voluntários”.
A palestrante deixa uma mensagem aos universitários, que passem a ver o diagnóstico de Alzheimer não como uma pessoa com rótulo de doença cerebral progressiva e degenerativa, “mas sim como uma pessoa merecedora de todo nosso respeito e nossa ajuda para manter sua independência até onde for possível e sua dignidade”.
José Ricardo, professor de Bioética e Medicina do Adulto da UNIFENAS, câmpus de Belo Horizonte, diz que os alunos do 4º período de Medicina participam de uma vivência em instituições de longa permanência, e por isso precisam de informações sobre o idoso e a terminalidade da vida. “Receber a Judy Robbe aqui é uma alegria imensa para a instituição com toda sua experiência e bagagem internacional e aqui no nosso meio também. Ela vem falar do trabalho inovador do envelhecimento ofertado para a população de Belo Horizonte, com uma instituição que ela organiza e tem uma gestão que se chama Harmonia do Viver.
O docente comenta que o Brasil tem uma população envelhecendo rápido, diferente do continente europeu, daí a necessidade de formar o profissional, “capacitá-lo com habilidade clínica de atenção a essa população substancial na pirâmide de transição demográfica do país e torná-los cada vez mais humanos frente às necessidades do idoso”.