A UNIFENAS, câmpus de Alfenas, criou recentemente a Liga de Saúde do Trabalhador. Formada, inicialmente, por acadêmicos de Enfermagem e Engenharia Civil, a Liga pretende atuar com pesquisa e orientação junto a pequenas empresas e à comunidade por meio da extensão universitária. Uma de suas ações já realizadas foi 1º Simpósio de Saúde do Trabalhador.
O evento, que ocorreu no câmpus da Universidade, contou com a presença de acadêmicos e profissionais de diferentes áreas envolvidos com a temática em questão. “A realidade da Saúde do Trabalhador” foi exposta por Ivana Araújo, coordenadora da área de vigilância em saúde da Superintendência Regional de Saúde. Ela falou das dificuldades nas notificações de acidente que, por consequência, contribui para uma falta de política de saúde efetiva para o trabalhador. Como afirma Ivana, o problema existe por falta “do profissional de saúde perguntar se aquilo que o paciente sente tem vínculo com o trabalho. Além da correria e falta de vontade, isso tudo acarreta a não notificação”.
A “Prevenção e saúde do trabalhador” esteve no centro das discussões de uma mesa-redonda. A médica do trabalho Rosanna Tavares Fernandes, o engenheiro civil e de segurança do trabalho José Fernando Costa Carvalho, o administrador e técnico de segurança do trabalho Alaércio da Silva Ribeiro Júnior (estes da UNIFENAS) e a enfermeira do trabalho Aparecida Azola Costa Ribeiro e Ribeiro (Unifal) participaram do debate. Questionado sobre o porquê de ocorrer acidentes de trabalho, principalmente na construção civil, o engenheiro José Fernando destacou que uma das causas mais evidentes é a falta de conhecimento dos colaboradores deste setor, já que na maioria das vezes só se exige do contratado a força bruta.
Divulgação de pesquisa
O Simpósio foi encerrado com a apresentação do trabalho de pesquisa, que tem como uma das responsáveis a Prof. Alessandra Cristina Pupim Silvério (UNIFENAS), sobre a situação dos trabalhadores rurais expostos aos agrotóxicos em 26 municípios da região. Ao todo a pesquisa envolveu 1 mil e 27 trabalhadores rurais, os quais foram submetidos a vários exames: função hepática e função renal. Foram feitas biomarcadores para se analisar a exposição a diferentes praguicidas, além da possibilidade dos trabalhadores desenvolverem câncer. Tais exames foram realizados por meio de testes de genotoxicidade.
Quanto aos exames relacionados ao câncer, os resultados foram preocupantes, segundo a professora. “A gente viu que, significativamente, após feita a estatística, notamos uma alteração muito maior nos trabalhadores rurais do que naqueles da cidade. Temos uma chance deles terem câncer muito maior.”
Como acrescenta Pupim, houve também uma abordagem da atenção primária à saúde do trabalhador rural. “Na realidade não temos um serviço adequado. Ele [trabalhador rural] tem acesso ao serviço de saúde, mas, no que diz respeito a toda a essa atenção primária, de comunidade de saúde, de atenção, de estar ali, segui-lo como paciente, isso está deficitário”, disse a professora.
Liga de Saúde do Trabalhador
A Liga de Saúde do Trabalhador teve início em 2016. Os organizadores acreditam que, com a sua criação, surge a possibilidade de implantar-se uma disciplina voltada para a saúde do trabalhador no curso de Enfermagem, bem como uma especialização na área.
A princípio, a Liga, que é interdisciplinar, nasceu com os acadêmicos de Enfermagem e Engenharia Civil, mas está aberta para receber integrantes de outros cursos da UNIFENAS. A presidente é a acadêmica de Enfermagem Denise Mayumi Yamada, e os professores Hélder Luiz Ribeiro da Silva (coord. do curso de Enfermagem) e Wagner de Lima Gonçalves (coord. adjunto do curso de Engenharia Civil) são responsáveis pela coordenação dos membros da Liga.